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O Deserto que Chora

Meditação para o Dia 20 de Dezembro

Contam os viajantes, que à noite, quando os vendavais sopram furiosamente as areias do deserto, ouve-se ao longe como que um soluço, um gemido angustiado.

“Escuta – diz o árabe – escuta o deserto! Não ouves como ele chora? Chora, coitado, porque desejaria tanto ser uma campina, um prado verdejante!”

“Eis aí o coração do homem”, diz com felicidade um Autor. O pecado fez do nosso coração, outrora campo florido e embalsamado, um enorme, árido e triste deserto. Uma solidão horrorosa. Mas esse deserto vivo tem consciência de sua enorme desgraça e quer reverdecer e reflorir. E se queixa, e chora desolado. No Céu, só no Céu, o Amor fará o milagre da transformação do deserto. Aqui, nosso pobre coração, ao vento das paixões e desses sonhos de felicidade, que nos agitam e nos fustigam dolorosamente; nas trevas de uma noite de incertezas, dúvidas, martírios e dores de toda sorte, aqui neste mundo frágil e miserável, por certo há de gemer, há de soluçar o triste deserto de nossa vida. É bem verdade: nossa vida vai passando e vai sempre mergulhada numa tristeza imensa de se ver insatisfeita. Vai, pobrezinha, de flor em flor, de sonho em sonho, à procura, em toda parte, de um não sei que, que a possa encher, saciar plenamente. E não encontra em parte alguma do mundo o que procura. É o eterno deserto a soluçar. Desilude-te, homem sensual, desilude-te! A felicidade, não a encontrarás fora do Senhor. Só no Céu o deserto de nossa vida será a campina embalsamada de Amor e de Verdade!

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(Brandão, Ascânio. Breviário da Confiança: Pensamentos para cada dia do ano. Oficinas Gráficas “Ave-Maria”, 1936, p. 379)