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Os Templos Cristãos

Os Templos Cristãos

Capítulo XIII

Os Judeus tinham pelo seu Templo a mais profunda veneração. Vinham várias vezes no ano, das mais remotas regiões da Judeia, visitá-lo e adorar a Jeová, no Seu grande santuário. Com que alegria não o contemplavam, quando, ao cabo de trabalhosa jornada, avistavam de longe os seus muros e torres tão santos! Ainda hoje é coisa patética e comovente ouvir os lamentos com que os judeus choram a ruína da Cidade Santa e do seu Templo.

Os devotos muçulmanos suspiram pelo dia em que possam visitar a sua Cidade Santa, Meca, berço de Maomé, onde se ergue a Caaba, santuário do islamismo. Empreendem longas viagens, por entre imensos perigos, com grandes despesas e fadigas, para entrarem, ao menos uma vez na vida, na grande Mesquita. Na Caaba nunca falam, nem cospem, nem olham para os lados e, para não voltarem as costas ao Santuário, saem a recuar. Mas não é só em Meca que dão provas desta reverente devoção; em todas as suas mesquitas mostram o mesmo respeito, mesma piedade.

E nós, cristãos, como é que veneramos tão pouco os nossos templos santificados, não uma vez, mas sempre, pela presença verdadeira e constante do Grande Deus e onde, todos os dias, é celebrado o sacrossanto Sacrifício do Calvário, ao qual vêm assistir os Anjos do Céu?

Estudemos um pouco o simbolismo destes santos edifícios, para que os nossos corações se compenetrem bem do respeito e devoção com que devemos entrar e estar na Casa do Senhor.

Sobre as cidades populosas e magníficas erguem-se, como sentinelas de Deus, destacando-se no Céu azul, as torres das velhas catedrais. Levantam-se acima dos edifícios, como dedos a apontar o Céu, para significar, que, acima dos homens e das coisas, está o poder e a providência infinitos de Deus e para nos lembrar que a nossa vida sobre a terra é apenas uma jornada e que a nossa verdadeira morada é lá em cima, junto de Deus.

As catedrais são obra da fé e devoção dos nossos Pais. Não foram só os bispos, os monges e os reis que as levantaram. As populações rudes, mas sinceras, da Idade Média, reuniam todos os esforços e todas as vontades, e a catedral, a maravilha de pedra, começava a brotar do solo, como visível emblema da crença que ardia nos corações. Todos concorriam para a Casa de Deus: uns com o trabalho e outros com o dinheiro. A fábrica da catedral era lenta e trabalhosa, demandando a reunião de muitas forças. Crescia a povoação com os numerosos artífices, e, crescendo simultaneamente as necessidades locais, novos elementos de vida vinham agregar-se à população primitiva. Desta sorte, em redor da catedral ia-se formando a cidade, dominada pela ideia e à sombra da Casa de Deus.

Mas não é só nos templos magníficos das cidades, não é só nas catedrais seculares, que a nossa alma sente a Presença divina. Nas Igrejas humildes das aldeias algumas tão antigas, que mal há notícia da sua fundação, quanta fé, quanta devoção não revelam uma escultura tosca, um ornato rude, mas sincero e simples como as flores silvestres? Uma lâmpada amortecida bruxuleia diante do altar, onde está encerrada a Vítima eterna. Das paredes pendem ex-votos, testemunhos da viva fé e da gratidão das almas, que ali vieram implorar e obter uma graça. As gerações da aldeia sucederam-se, tendo como consolação e amparo a velha Igreja rústica, onde o Sacrifício incruento é celebrado pelos que morreram, pelos que andam nas guerras, pelos que, longe dos seus, moirejam em climas remotos e inóspitos, pelos que vão sobre as águas do mar, para implorar de Deus as chuvas que tanta falta fazem, para salvar as rezes que perecem, ou em ação de graças pelos benefícios de um ano próspero.

Assim, pois, quer nas cidades, quer nas aldeias, ou seja uma catedral de magníficas proporções ou um templo rude, de musgoso granito, a Igreja, na qual se oferece o Incruento Sacrifício foram sempre para os cristãos lugar de veneração, e emblema sagrado.

Censuram alguns que os católicos consumam tantos esforços, dispendam tamanhas quantias na construção de Igrejas, e dizem.

«Podia aplicar-se esse dinheiro a tantas obras úteis e necessárias…»

Este zelo farisaico lembra a frase de Judas, quando viu a Madalena ungir os pés de Jesus:

«Para que é este desperdício? Não poderia dar-se aos pobres o dinheiro destes perfumes?»

Antes de mais nada observaremos, de passagem, que as Igrejas são úteis e até necessárias. O homem e a sociedade não são só o corpo: são acima de tudo, a alma. Se para o corpo procuramos tantos confortos, se são necessárias as nossas habitações, se são indispensáveis os hotéis, os estabelecimentos de diversão, não havemos de conceder à nossa alma um lugar onde repouse numa atmosfera de sossego e paz, onde possa livremente remontar-se até à Fonte eterna da Vida, haurindo forças e consolações para a sua viagem sobre a terra?

Mas há mais: se em todos os países se elevam estátuas a militares, a heróis, a sábios, a escritores, a políticos, a homens, muitos dos quais, pouco ou nada fizeram pela sua pátria, não será justo que elevemos monumentos ao Deus Onipotente, Senhor dos homens e das coisas, de Quem temos tudo quanto somos e possuímos?

Todas as religiões pagãs ergueram edifícios e padrões em honra dos seus falsos deuses. Os gregos e os romanos levantaram templos magníficos, cujas ruínas ainda hoje nos maravilham. Os maometanos têm as suas mesquitas a que consagram a maior veneração. Nas vastas regiões do Oriente asiático avultam esses pagodes de estranha forma e colossais proporções, esses extraordinários templos hindus, consagrados às falsas divindades. Só o Deus verdadeiro, o Criador supremo do Universo, não teria um lugar especialmente consagrado ao Seu culto, lugar em que Lhe fosse oferecido o Sacrifício por excelência, o Sacrifício da Missa?

Não nasceram estas ideias, de algum cérebro de devoto ou poeta. O próprio Deus no-las inspira. Acaso não conhecemos as ordens minuciosas que deu para o seu Templo de Jerusalém, a profusão de ouro, de prata, de vasos preciosos, de materiais, raros, que nele foram empregados? E as nossas Igrejas, em que Ele Próprio habita, tão verdadeiramente, haviam de ser mais pobres?

As primeiras Igrejas

A primeira Missa foi celebrada por Nosso Senhor na Sala da Última Ceia. As comunidades dos primeiros cristãos, partiam o Pão eucarístico nas suas casas, como lemos nos Atos dos Apóstolos.

Mas logo que, ainda no primeiro século, se construíram templos, era lá que a Missa se celebrava.

Na época das perseguições o Santo Sacrifício era celebrado onde o permitiam as circunstâncias: nas catacumbas, nos descampados, nos navios e até nos cárceres, onde o altar era às vezes o peito do mártir, dai a pouco esquartejado no potro ou devorado pelas feras.

Passada a sangrenta tempestade, os cristãos começaram a construir templos ou Igrejas, que consagravam para a celebração dos Sagrados Mistérios.

Depois da vitória de Constantino, o Grande, sobre Maxêncio, os cristãos construíram por toda a parte igrejas de mais custosa fábrica, dando o próprio imperador o exemplo, levantando, em Roma a Igreja de São João de Latrão e uma outra dedicada a São Pedro, e em Jerusalém, a pedido de sua mãe Santa Helena, a Igreja do Santo Sepulcro.

Como Moisés consagrou o Tabernáculo e Salomão o Templo, os cristãos consagram as suas Igrejas. Tendo os cristãos o piedoso costume de abençoar o alimento, as suas casas, tudo o que usam, não haviam de abençoar ou consagrar os templos destinados ao culto divino?

Desde o templo de Constantino, a consagração das Igrejas começou a ser feita com grande pompa e solenidade. O povo reunia-se, com grande regozijo e muitas vezes os bispos congregavam-se num concílio provincial. Por ocasião da consagração da Igreja de Antioquia, em 344, reuniu-se um grande número de bispos.

A consagração é a forma mais solene de consagrar um edifício ao serviço de Deus. É celebrada por um bispo e não pode ser repetida enquanto a Igreja subsistir nas suas partes principais.

As Igrejas são dedicadas em primeiro lugar a Deus, posto que sob o título ou invocação e em honra ou memória de algum santo, para que os fiéis reunidos nelas estejam sob a especial proteção desse Santo e invoquem a sua intercessão.

Quando numa Igreja é perpetrado algum crime ou impureza, fica considerada como poluta e profanada. Os altares são despojados dos ornamentos e emblemas e as portas fechadas e o Santo Sacrifício não pode ser celebrado nela, antes que seja de novo benta com água santa, em que se mistura vinho, sal e cinza.

A primeira dedicação da Igreja — chamada consagração — é a figura do batismo, pelo qual a alma é dedicada a Deus, como templo e morada Sua. A re-dedicação ou benção de uma Igreja profanada é a figura do sacramento da penitência, que reconcilia com Deus a alma profanada pelo pecado.

A forma das primeiras Igrejas era oblonga, e semelhante à configuração de uma barca — a Igreja é uma barca, a «Barca de Pedro» — como prescreviam as constituições apostólicas. O altar ocupava, geralmente a parte oriental. Salvo o caso de excepcionais dificuldades de construção, as Igrejas eram antigamente edificadas de forma que o santuário ou o altar ficasse sempre ao oriente do edifício. Os antigos cristãos tinham o costume de voltar a face para o Oriente, quando oravam, como sinal da sua esperança de ressurreição. Do Oriente surgia o sol, que alumia e aquece a terra. A nossa luz, o nosso sol é Cristo, que veio libertar o mundo das sombras da morte.

As Igrejas tinham quase sempre um espaço livre, destinado aos penitentes a quem estava interdita a entrada no templo. Nesse espaço havia uma fonte ou cisterna, onde os fiéis lavavam as mãos e a fronte, antes de entrar; a água era benta em certos dias do ano. Crê-se que é esta a origem das pias de água benta à entrada das Igrejas. Ainda hoje vemos em muitas Igrejas rurais um espaço em frente do edifício, com um cruzeiro no meio. Atualmente as leis eclesiásticas só permitem a celebração da Missa numa Igreja, num oratório público ou particular, sendo necessário, neste último caso, um indulto apostólico. Todavia em casos muito excepcionais, quando é necessário celebrar, o Sacrifício da Missa pode ser oferecido em qualquer lugar onde não haja inconveniente e sempre com a licença do Prelado.

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(E.D.M, Padre Paul Henry O’Sullivan. As Maravilhas da Santa Missa. Lisboa, 1925, p. 94-99)