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O Sacerdote e os Paramentos

O Sacerdote e os Paramentos

Capítulo XV

A corôa do sacerdote significa a corôa de espinhos que os soldados teceram e puseram na cabeça sacrossanta do Salvador.

Os Paramentos

Chega o sacerdote. Vem paramentado como ministro e representante do Filho de Deus. Cada uma das sagradas vestes representa um objeto ou circunstância da Paixão.

O Amicto que o sacerdote coloca sobre a cabeça e sobre o pescoço, representa o véu com que os judeus vendaram os olhos de Jesus em casa de Caifás, dizendo-lhe, por escárnio:

«Profetiza, Cristo: quem foi que te bateu?»

Lembra-nos a cena horrível da soldadesca brutal a escarnecer o Filho de Deus.

A Alva, branca túnica de linho que o sacerdote veste, comemora a túnica, que, por irrisão, Herodes mandou vestir ao Salvador, quando Ele Se recusou a obrar o milagre, que aquele rei por vã curiosidade, pedia.

O Cordão ou Cingulo representa a corda com que foi preso o Salvador:

«E, preso, O conduziram e entregaram ao governador Pôncio Pilatos»

O Manipulo, que o sacerdote suspende do pulso, recorda os laços com que prenderam as Suas santas mãos.

A Estola, figura as cadeias de ferro com que O carregaram depois da Sua condenação, quando Pilatos, lavando as mãos, O entregou à brutalidade da soldadesca.

As cores das vestes sagradas

Durante os primeiros séculos os paramentos sacerdotais não tiveram mais que uma só cor: a branca. Desde o mais humilde levita até ao Sumo Pontífice todos os ministros do altar usavam vestes brancas. Todavia, às vezes, eram bordadas de ouro ou prata ou seda escarlate. Só no século IX é que se começaram a usar diversas cores nos paramentos.

As cores litúrgicas são o branco, o vermelho, o verde, o violáceo ou roxo e o negro.

Notaremos, de passagem, que, por um privilégio raríssimo, algumas Igrejas usam a cor azul na festa da Imaculada Conceição. Em Portugal goza deste privilégio a capela da Universidade de Coimbra e por especialíssima concessão a capela dos Marqueses de Gouveia, em Gouveia. O simbolismo desta cor consiste em recordar que na Conceição de Maria tudo foi celestial e o azul é a cor do céu.

Todas estas cores têm uma significação. O branco, a cor da luz e da claridade, é o símbolo das alegrias eternas, da inocência e da pureza. A cor branca usa-se nas festas de Nosso Senhor, da Santíssima Virgem, dos Anjos e dos Confessores. Jesus Cristo é a Luz do mundo. A Virgem Santíssima deu à luz a Luz do mundo e foi preservada do pecado original. Os anjos encontram-se na luz eterna e gozam de uma santidade perfeita; aparecem quase sempre vestidos de roupagens brancas e assim costuma representá-los a arte cristã, tão expressiva no seu simbolismo. Os confessores resplandeceram já sobre a terra pelas boas obras. Na festa da Natividade de São João Batista, usa-se também a cor branca, apesar do Santo Precursor ter sido mártir. A Igreja recorda desta maneira a santificação de São João Batista no seio materno.

O vermelho é a cor do fogo e do sangue e toma-se como símbolo do amor e do martírio. Usa-se no dia de Pentecostes e nas festas dos Mártires: no dia de Pentecostes, porque nesse dia se comemora a descida do Espirito Santo sobre os Apóstolos em línguas de fogo, e o Espirito Santo é que acende em nossos corações o fogo do amor de Deus; e nas festas dos Mártires para simbolizar o sangue que eles deram por Nosso Senhor. Usa-se ainda a cor vermelha nas festas da Santa Cruz, porque nela derramou o Salvador o Seu Sangue preciosíssimo.

A cor verde é a cor da primavera, é a cor da esperança. Usasse nos domingos depois da Epifania e nos domingos depois do Pentecostes. Nos domingos depois da Epifania a Igreja celebra a juventude de Jesus e a Sua entrada na vida pública, que deu ao mundo a esperança de salvação. Nos domingos depois do Pentecostes celebra a Sua própria juventude ou primavera, isto é, a germinação da semente de mostarda, que é o reino de Deus.

A cor violácea ou roxa serve no tempo do Advento, durante a Quaresma e nos dias de jejum e das rogações. É a cor melancólica do crepúsculo e significa, portanto, humildade e penitência. O advento é a época da expectação e do desejo do Divino Salvador e da penitência pelos pecados do que Ele nos vem libertar. A Quaresma é a recordação comovente do jejum e paixão de Jesus. O violáceo usa-se também na administração dos sacramentos da Penitência, da Extrema-unção e do Batismo (até ao lançamento da água) e nas rogações.

A cor negra, atributo da noite, representa a morte, que apaga a luz da vida e representa tristeza, porque a escuridão entristece-nos a alma, ao passo que a luz a alegra. Usa-se na Sexta-feira santa e nas Missas pelos defuntos. Nos paramentos pretos das Missas de defuntos vêem-se às vezes ornatos brancos, que significam a esperança de que a alma libertada do purgatório irá em breve gozar a glória e a luz do Céu. Na Missa pelos meninos falecidos em tenra idade, depois de batizados, usa-se não a cor negra, mas a branca para designar que, por terem morrido na idade da inocência e com a graça do batismo, vão logo para o Céu.

Assim, pois, as cores das vestes sagradas têm uma alta significação moral. Por ela exorta-nos a Igreja a que levemos uma vida cristã, conforme aos preceitos divinos.

Pelo branco incita-nos a aspirar à santidade.

Pelo vermelho, anima-nos ao amor de Deus.

Pelo verde, adverte-nos que não procuremos o Céu sobre a terra, mas coloquemos a nossa esperança na pátria futura.

Pelo roxo, convida-nos à penitencia.

Pelo negro, recorda-nos a morte e exorta-nos a rezar pelos nossos queridos defuntos.

A Casula é a representação do manto escarlate que Lhe foi lançado aos ombros. Este paramento tem nas costas uma cruz, em memória daquela que o Salvador levou aos ombros, e à frente uma coluna para figurar aquela a que Jesus foi atado para a flagelação.

«E despindo-O, os soldados cobriram-nO com um manto carmesim e tecendo uma corôa de espinhos puseram-na sobre a Sua cabeça e na Sua mão direita uma cana, e ajoelhando diante dele, O escarneciam, dizendo:

— Ave, rei dos judeus!

E, cuspindo-Lhe, tomaram uma cana e Lhe davam com ela na cabeça»

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(E.D.M, Padre Paul Henry O’Sullivan. As Maravilhas da Santa Missa. Lisboa, 1925, p. 106-109)