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A Caridade é sempre Amável

Meditação para a Vigésima Segunda Sexta-feira depois de Pentecostes. A Caridade é sempre Amável

Meditação para a Vigésima Segunda Sexta-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre o oitavo caractere da caridade, que é a amabilidade cristã; e para formarmos dela uma exata ideia, a estudaremos no mesmo Jesus Cristo, nosso adorável modelo; e veremos quanto foi amável:

1.° Pelo seu gênio;

2.° Pelas suas obras;

3.° Pelas suas palavras.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De tratarmos toda a gente com urbanidade, sem nunca praticarmos uma só ação, nem dizermos uma só palavra contrárias à mais apurada polidez;

2.° De vigiarmos muito em particular o nosso gênio, para reprimirmos os seus ímpetos.

O nosso ramalhete espiritual serà a palavra do livro da Sabedoria:

“O sábio faz-se amável pelas suas palavras” – Sapiens in verbis seipsum amabilem facit (Ecl 20, 13)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor mostrando-Se amável em tudo pelo seu gênio, pelas suas obras, pelas suas palavras; não se limita a não ofender pessoa alguma; busca ser agradável e amável para com todas. Por quanto se São Paulo diz:

“Eu em tudo procuro, agradar a todos” – Per omnia omnibus placeo (1Cor 10, 33)

Acrescenta imediatamente: É de Jesus Cristo que aprendi esta ciência:

“Sede nisto meus imitadores, bem como eu também o sou de Jesus Cristo” – Imitatores mei estote, sicut et ego Christi (1Cor 11, 1)

Agradeçamos a este divino Salvador tão útil ensino.

PRIMEIRO PONTO

Jesus Cristo amável pelo seu Gênio

Este divino Salvador não tem esse gênio pouco brando, esses impulsos que levam uma pessoa, a dizer que, para ser bem acolhida, é preciso saber escolher a ocasião favorável. Tem um gênio igual, que nada altera: é o mesmo quando O vituperam, quando O louvam; quando O insultam, e quando O honram; quando querem apedrejá-lO, e quando querem aclamá-lO rei; quando as turbas O apertam e oprimem (1), e quando está só no deserto ou nos montes. Que belo exemplo para nós, e principalmente para essas pessoas que têm mau gênio, que são a desonra da devoção, anjos na igreja e intratáveis em casa! Não somos nós deste número?

SEGUNDO PONTO

Jesus Cristo amável pelas suas Obras

Jesus Cristo, ainda que não tivesse sido Deus, teria ainda sido o homem mais honrado, mais amável, mais polido. Uma modéstia celestial resplandecia em toda a sua pessoa: o seu semblante nada tinha de severo ou tristonhas suas maneiras nada tinham de precipitado ou arrebatado (2). Tinha uma serenidade cheia de desembaraço natural e de graça, um olhar agradável, maneiras afáveis, um rosto sempre ingênuo, uma atitude sempre boa e amável, que encantava. Durante os trinta primeiros anos de sua vida, levou a urbanidade para com Maria e José a ponto de se conformar com as suas vontades, de se sujeitar a tudo o que eles desejavam (3). Quando nessa época apareceu no templo no meio dos doutores da lei, não se pôs a falar em tom magistral, como tinha direito de o fazer; mas ouviu, fez perguntas, Ele que nada tinha a aprender; e só falou depois que lh’o rogaram. Durante três anos da sua missão, observa fielmente as regras da urbanidade e do decoro: visitando a madrasta de São Pedro enferma, Marta e Maria aflitas; fazendo-se pequeno com os pequenos, e sabendo mostrar-se grande à mesa do fariseu; finalmente, era tal a sua conduta em todas as ocasiões, que bastariam só os seus exemplos e máximas para formar perfeitas regras da mais apurada civilidade cristã.

De onde nos é dado concluir, que não ter sempre um procedimento amável, honesto e polido, é um grande defeito, aos olhos da fé, pois é não seguir o modelo indispensável a todo o cristão.

TERCEIRO PONTO

Jesus Cristo amável pelas suas Palavras

O profeta via-O, no decurso dos séculos, tão cheio de graça em todas as suas palavras, que lhe parecia que os seus lábios distilavam a amenidade e doçura (4); e o Evangelho, confirmando a profecia, refere que as palavras que saiam da sua boca eram tão benévolas, tão suaves, tão afáveis, que os povos se admiravam (5). Nunca contendia nem clamava (6); nunca proferia uma palavra áspera ou pesada; nunca se irritava, senão contra os profanadores do templo, contra os hipócritas, e os grandes que abusavam da sua autoridade. Era, por excelência, esse sábio que se fazia amável pelas suas palavras (7), esse homem bom, cuja língua discreta produz abundantes frutos de mansidão e de graça (8).

É assim que nós falamos? Falamos de forma que nunca penalizamos o próximo, antes, ao contrário, o alegramos de ter relações conosco? É a nossa conversação despida dessa elegância afetada, que desagrada, e dessa dicção trivial pouco conveniente a um homem bem educado, e ainda menos a um cristão? Versa ela unicamente sobre assuntos bons e decorosos próprios para infundir nas almas uma suave alegria e o amor da virtude?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Turbae te comprimunt et affligunt (Lc 8, 45)

(2) Non erit tristis, neque turbulentus (Is 42, 4)

(3) Et erat subditus illis (Lc 2, 51)

(4) Diffusa est gratia in labiis tui (Sl 44, 3)

(5) Mirabantur in verbis gratiae quae procedebant de ore ipsios (Lc 4, 22)

(6) Non clamabit neque contendet (Mt 12, 19)

(7) Sapiens in verbis seipsum amabilem facit (Ecl 20, 13)

(8) Lingua eucharis in bono homine abundat (Ecl 6, 5)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 151-154)