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“Ouve, ó Israel!”

Dom Henrique Soares da Costa
Reze o Salmo 119/118,57-64
Agora, leia com piedade e coração que escuta na fé Dt 4,44 – 5,31

44Esta é a lei que Moisés expôs aos filhos de Israel. 45Estes são os mandamentos, as leis e os preceitos que propôs Moisés aos filhos de Israel, quando eles saíram do Egipto, 46além do Jordão, no vale em frente a Bet-Peor, na terra de Seon, rei dos amorreus, que residia em Hesbon.

Este foi vencido por Moisés e pelos filhos de Israel quando saíram do Egipto, 47de forma que tomaram posse da terra dele e da de Og, rei de Basan, ambos reis dos amorreus, na região a oriente do Jordão, 48desde Aroer, que está na margem do rio Arnon, até ao monte Síon, que é o Hermon, 49e toda a Arabá além do Jordão, a oriente, até ao mar de Arabá, nas encostas do Pisga.

1Moisés convocou todo o Israel e disse: «Escuta, Israel, as leis e os preceitos que eu hoje proclamo aos vossos ouvidos; aprendei-os e ponde-os em prática. 2O SENHOR, nosso Deus, concluiu uma aliança connosco no Horeb. 3Não foi com os nossos pais que o SENHOR concluiu esta aliança, mas connosco que, estamos aqui todos vivos hoje. 4O SENHOR falou-nos face a face sobre a montanha, do meio do fogo. 5Naquele tempo, eu estava entre o SENHOR e vós, para vos transmitir as suas palavras, porque, com medo do fogo, não subistes à montanha. Ele disse:

6 ‘Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa da escravidão. 7Não terás nenhum outro deus além de mim. 8Não farás para ti nenhuma imagem esculpida, seja do que está no alto do céu, ou em baixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. 9Não te prostrarás diante delas e não as adorarás, porque Eu, o SENHOR, sou o teu Deus, um Deus ciumento, que castigo a iniquidade dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração dos que me ofendem, 10mas uso de benevolência até à milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.

11Não invocarás em vão o nome do SENHOR, teu Deus, porque o SENHOR não deixará impune aquele que tiver invocado o seu nome em vão.

12Guarda o dia de sábado para o santificar, como te ordenou o SENHOR, teu Deus. 13Trabalharás durante seis dias e neles farás todos os teus trabalhos; 14mas, o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus: não farás trabalho algum, nem tu, nem os teus filhos e filhas, nem o teu escravo ou escrava, nem o teu boi, o teu jumento ou qualquer outro animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas, para que o teu servo e a tua serva descansem como tu. 15Lembra-te que foste escravo na terra do Egipto, donde o SENHOR, teu Deus, te fez sair com mão forte e braço estendido. Por isso te ordenou o SENHOR, teu Deus, que guardasses o dia de sábado.

16Honra o teu pai e a tua mãe, como te ordenou o SENHOR, teu Deus, a fim de prolongares os teus dias e viveres feliz na terra que o SENHOR, teu Deus, te há-de dar.
17Não matarás.
18Não cometerás adultério.
19Não roubarás.
20Não prestarás falso testemunho contra o teu próximo.
21Não cobiçarás a mulher do teu próximo e não desejarás a sua casa, nem o seu campo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem nada que lhe pertença.’

22Estas palavras dirigiu o SENHOR a toda a vossa assembleia sobre a montanha, do meio do fogo, da nuvem e das trevas, com voz forte, sem acrescentar mais nada; escreveu-as em duas tábuas de pedra e entregou-mas. 23Quando ouvistes a voz que saía do meio das trevas, enquanto a montanha se abrasava em fogo, aproximastes-vos todos de mim com os chefes das vossas tribos e os vossos anciãos e dissestes-me: 24 ‘Na verdade, o SENHOR, nosso Deus, revelou-nos a sua glória e a sua grandeza, e ouvimos a sua voz do meio do fogo. Hoje mesmo damo-nos conta de que Deus pode falar ao homem e este continuar vivo! 25Mas agora não iremos morrer, consumidos por esse grande fogo? Se continuarmos a ouvir a voz do SENHOR, nosso Deus, morreremos. 26Pois que criatura poderá ouvir a voz do Deus vivo, falando do meio do fogo, como nós ouvimos, e permanecer viva? 27Vai tu e escuta tudo o que disser o SENHOR, nosso Deus; e, depois, tu nos dirás tudo o que o SENHOR, nosso Deus, te tiver dito; então ouviremos e obedeceremos.’

28O SENHOR ouviu a súplica das vossas palavras quando me faláveis, e disse-me: ‘Ouvi a súplica das palavras que esse povo te dirigiu; tudo o que eles disseram está bem. 29Quem dera que tivessem sempre a peito temer-me e cumprir todos os meus mandamentos, para serem eterna-mente felizes, eles e os seus filhos. 30Vai, diz-lhes que voltem para as suas tendas. 31Tu, porém, fica aqui comigo, e Eu te exporei todos os mandamentos, leis e preceitos que lhes ensinarás e que eles cumprirão na terra que Eu lhes darei em propriedade.’

1. “Ouve, ó Israel!” Esta exortação, que muitas vezes aparece no Deuteronômio, é preciosíssima! Ela ainda é plenamente válida, seja para o Novo Israel, que é a Igreja, seja para cada fiel, para cada um de nós!

“Ouve!” É a atitude fundamental do crente diante do Senhor Deus! Ouvir significa abrir o coração, a inteligência, a vontade, o afeto para o Senhor! Repito: esta é a atitude fundamental do crente: estar totalmente aberto ao Senhor, acolhendo a Sua Palavra, os Seus preceitos, a Sua santa vontade! Aquele que não ouve, aquele que se fecha para o Eterno, ainda que diga que creia, na verdade, age como um ateu! O verdadeiro crente é aquele que caminha o caminho da vida sempre diante do Santo, sempre disponível à Sua Palavra, aos Seus apelos, sempre dócil aos Seus preceitos!

Pense um pouco: Você escuta, de verdade, o Senhor? Você se deixa ferir pela Sua santa Palavra, procura converter sua vida aos Seus mandamentos? Nunca se esqueça: Não somos nós que dobramos o Senhor Deus à nossa vontade, mas Ele é que nos converte à vontade Dele! Ouvir o Senhor é deixar-se questionar, ferir, plasmar pela Sua santa Palavra!

2. Muito interessante também são os sinônimos que o texto sagrado dá para a Lei de Deus, a santa Torá: estatutos, normas, aliança, mandamentos, preceitos, decretos, juízos, caminhos, palavra, testemunhos (cf. Sl 119/118). Tudo isto quer significar que a Palavra de Deus envolve, ilumina e vivifica, ordena e dá consistência à nossa vida! Aquele que caminha na vontade do Senhor vive verdadeiramente e sua vida torna-se semente de Eternidade! O verdadeiro crente, o verdadeiro amigo do Senhor Deus é aquele que vive na Sua Lei. Para o judeu, esta Lei é a Torá; para o cristão, esta Lei é o Espírito de Cristo, Espírito de Amor que habita no nosso coração (cf. Rm 5,5; 1Cor 3,16) e que nos foi dado no Pentecostes, festa do dom da Lei do Sinai! Quando Jesus, nosso Senhor, afirma que quem O ama guarda a Sua Palavra (cf. Jo 14,23) e cumpre os Seus preceitos (cf. Jo 14,21), Ele está Se referindo a viver no Seu Espírito Santo: aquele que tem o Espírito de Jesus nosso Senhor e se deixa guiar por Ele, ama o Senhor Jesus e vive na Sua santa vontade, guardando o Seu mandamento de amor ao Pai e aos irmãos!

3. Há uma outra ideia importante, presente em 5,1 e em toda a Escritura Santa: Israel deve aprender os preceitos do Senhor; aprendê-los para colocá-los em prática! Sim! Naturalmente, entregues simplesmente à nossa vontade e à nossa pura razão, não compreenderemos e não aprenderemos a vontade de Deus! É preciso ouvir, é preciso crer, é preciso ser humilde e obedecer, para aprender e viver, pondo em prática a vontade do nosso Deus! O soberbo, o que é sábio a seus próprios olhos, o autossuficiente jamais aceitará isto! É o que vemos hoje até mesmo na Igreja: a presunção humana de querer mudar os preceitos do Senhor… Ao invés de aprendê-los e ensiná-los, deseja-se rebaixar Deus ao homem, fazendo um deus à medida do homem, e do homem no pecado, sem conversão! Loucura, idolatria! Agora olhe você: sua vida é vivida na vontade do Senhor? Suas decisões são de acordo com os preceitos do Altíssimo?

4. Os Dez Mandamentos, conhecidos como Dez Palavras, podem ser resumidos no amor total ao Senhor Deus e ao amor aos próximos por amor ao próprio Deus. Jesus mesmo resumirá assim os Mandamentos (cf. Mt 22,37-40).

Releia os vv. 6-21. O Senhor Deus começa apresentando-Se: o Deus de Israel não é uma realidade teórica, não é um Deus distante, frio, impessoal: é Aquele que tirou o Seu povo da casa da escravidão, fazendo-o viver de verdade. Ele não é somente Deus, mas é o Deus de Israel, o Deus que ama Israel, o Deus comprometido com Israel. Do mesmo modo, você pode dizer:

“Tu és o meu Deus, meu Rochedo, meu Amparo, minha Fortaleza, meu Libertador!”

Por isso mesmo, Ele deve ser único para Israel e único para nós! Deus não aceita que O sirvamos com um coração dividido; o Senhor não aceita que, ao Seu lado, haja ídolos, apegos, no nosso coração.

5. Exatamente para salvaguardar a Sua unicidade e transcendência, o Santo proíbe terminantemente imagens Dele próprio e de outros deuses. Como compreender hoje este mandamento? O Senhor nos quer por inteiro e todo apego a coisas, pessoas, situações, costumes; tudo quanto absolutizarmos no nosso coração e na nossa vida, é idolatria, é divinizar, endeusar as criaturas, dando-lhes no nosso coração um lugar que somente a Deus deve pertencer…

Olhe bem como você se relaciona com as realidades deste mundo: as vivencia dentro do amor de Deus e colocando tudo em relação a Deus ou, ao invés, há coisas, pessoas, situações às quais você se apega e que o afastam de Deus e dividem com Ele o seu amor? Lembre: o Senhor é um Deus ciumento; Ele quer o seu coração por inteiro! Ele não o aceita pela metade!

6. Uma observação: os Dez Mandamentos, resumo da Lei de Moisés, preparavam para o Cristo. São Paulo nos explica que a Lei era nosso pedagogo, nosso guia que conduz para o Cristo. Leia com atenção Gl 3,23-29. A Lei, com seus preceitos, já não obriga o cristão; ele está livre dos preceitos da Lei de Moisés (cf. Gl 5,1), pois já está em Cristo! Todos os mandamentos do Senhor Deus foram cumpridos em Cristo e ultrapassados pela nova Lei, que é o Espírito de Amor, de modo que “quem ama o outro cumpriu a Lei” (Rm 13,8ss). Nunca esqueça: a Lei de Cristo não é um puxadinho da Lei de Moisés, não é um complemento nem um remendo: é uma realidade completamente nova, que não cabe nos velhos preceitos da Antiga Lei (cf. Mc 2,18-22)! A Lei de Cristo não é dada num conjunto de normas, mas é o Espírito de Amor, que nos dá os mesmos sentimentos do Cristo Jesus (cf. Fl 2,5) e nos torna capazes de amar o Pai e os irmãos como Jesus amou! Esta é a Lei de Cristo:

“Carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo!” (Gl 6,2)

7. Por último, os vv.31: Deus é Mistério, Ele é inacessível ao homem, Ele fala no meio das trevas, mas, ao mesmo tempo, é circundado de fogo! É luz que ilumina, mas continua treva, porque jamais poderemos compreendê-Lo, alcançá-Lo, engaiolá-Lo no nosso entendimento! E, no entanto, esse Deus tão grande, tão infinitamente acima de nós, digna-Se falar-nos, digna-Se mostrar-nos a Sua vontade, os Seus caminhos, para que, neles, tenhamos a Vida! Oxalá o seu e o meu coração sejam abertos para o Eterno, e nós O escutemos, e vivamos na Sua santa vontade para vivermos verdadeiramente!

8. Reze o Salmo 29/28: a voz do Senhor, tão temível e majestosa quanto o trovão, é-nos dirigida como suave brisa que nos dá luz e vida!