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Meditação para o III Domingo da Quaresma

A Figueira Estéril
Irmãos caríssimos em Cristo, neste santo tempo quaresmal somos chamados a escutar com mais atenção ainda a santa Palavra que o Senhor nos dirige. Escutemos com seriedade, porque Aquele que nos fala é o mesmo Deus santo que, do meio da chama da sarça, falou com Moisés… Aquele diante de quem Moisés cobriu o rosto e tirou as sandálias.. Com Deus não se brinca, meus caros; de Deus não podemos fazer pouco impunemente!

Assim, estejamos atentos, pois durante os quarenta dias deste período sagrado que nos prepara para a Páscoa, toda a Igreja é chamada a recordar-se que é o novo Israel, um povo consagrado a Deus, reunido pelo Senhor do meio de todas as nações, consagrado pelo sangue precioso de Cristo, separado do mundo e enviado ao mundo para no mundo fazer brilhar a glória do Senhor…

Somos, meus queridos em Cristo, um povo santo, um povo sacerdotal: um povo de testemunhas do Senhor diante da humanidade e de intercessores pela inteira humanidade diante do Senhor… O que era o antigo Israel de modo figurativo e, em certo sentido, provisório, somos nós agora de modo pleno e definitivo.

Deste modo, nestes dias quaresmais, a Igreja toda e cada um de nós deve voltar ao deserto com a mente, com o coração, com a recordação, com o afeto… A Igreja deve estar atenta ao antigo Israel, pois, como diz o santo Apóstolo, os fatos ocorridos com o antigo povo “aconteceram para serem exemplos para nós, a fim de que não desejemos coisas más, como fizeram aqueles no deserto” e não murmuremos como eles murmuraram e não sejamos infiéis como eles foram…

Atenção, meus amados em Cristo! Atenção para não pensarmos: “Somos a Igreja de Cristo, somos o povo da eterna aliança, nada de mal nos acontecerá!Não caiamos nesta ilusão! O próprio São Paulo nos recorda hoje: “Quem julga estar de pé, tome cuidado para não cair”. E ainda mais, Jesus, no Evangelho, nos exorta gravemente à conversão!

Se a Igreja é a vinha do Senhor, que jamais será rejeitada, nós somos como aquela figueira que, se no período da paciência de Deus não der fruto, será cortada do meio da vinha! Eis a Quaresma: tempo da paciência do Senhor para nós, o tempo de produzir frutos que permaneçam!

Caríssimos meus, é tão significativa e urgente a exortação do Senhor Jesus no Evangelho deste hoje! Vede: Chegam com uma novidade para Jesus: Pilatos, que odiava os judeus e não perdia oportunidade para provocá-los, havia mandado matar uns galileus revoltosos e, para cúmulo do desprezo pelos judeus, ordenara misturar o sangue dos mortos com o dos animais a serem sacrificados no Templo… Uma profanação, uma ignomínia! Certamente, quem veio trazer a notícia triste não meditou no sentido dela… Jesus tira daí uma lição com palavras cortantes. Escutemos o Senhor:

“Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”.

E o nosso Mestre completa, recordando um acidente de pouco tempo atrás em Jerusalém:

“E aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”!

O que Jesus quer dizer?

Pensai vós, irmãos, que os que morrerem nas guerras ou tragédias naturais são mais pecadores que nós todos? Pensais que estas coisas são simples castigo de Deus? Não! Jesus não aceita este tipo simplório de raciocínio! Mas, uma coisa é certa para o nosso Salvador: esses acontecimentos trágicos devem ser sinais para nós; devem nos recordar o quanto somos frágeis, o quanto a vida passa, o quanto não temos em nossas mãos os nossos dias! Então, se formos sérios ante tais fatos, essas dolorosas realidades tornam-se uma palavra de Deus para nós, um apelo à conversão, um convite a levar Deus a sério e Nele fundamentar nossa existência!

Mais ainda: se a morte do corpo, provocada por tais tragédias nos entristece, que dizer da Morte eterna, da morte da alma, do inferno? Por isso Jesus nos previne: “Se não vos converterdes perecereis todos” – e aí de uma morte pior, definitiva, eterna!

Caros irmãos, não brinquemos com Deus! Certamente Ele é o Pai amoroso de Jesus e, desde o santo Batismo é também o nosso Pai; mas, é ao mesmo tempo, o Deus santo: Aquele em relação ao Qual sempre haverá uma enorme distância: somos criaturas, Ele é o Criador; somos tão limitados, Ele é Infinito! “Não te aproximes! Tira as sandálias dos pés: o lugar em que pisas é santo!

Insisto, irmãos amados: não brinquemos com o Senhor Deus: aproveitemos este tempo quaresmal, tempo da paciência divina, para a nossa conversão. E aí, então, iremos conhecendo o verdadeiro Nome de Deus: “Eu sou o que serei!”, isto é:

“Eu sou o que serei para vós! Na medida em que caminhardes Comigo, em Mim fundamentando vossa existência, sabereis por experiência quem Eu sou!”

Não se pode conhecer a Deus teoricamente; não se pode experimentar a proximidade e doçura do Senhor sem caminhar com Ele, a Ele confiando nossa vida! Vamos, irmãos, insisto mais uma vez: nosso Deus é o Deus fiel, o Deus de amor e misericórdia, capaz de ver nossas misérias, conhecer nossas angústias e descer até o chão de nossa existência para nos libertar e nos dar vida em plenitude. Mas, para isto, é necessário levá-Lo a sério e entrar no caminho de conversão a Ele!

Que o Senhor Jesus nos conceda esta graça da verdadeira conversão!

Que pela Sua santíssima paixão Ele nos livre de banalizar os apelos que nos faz e nos coloque no reto caminho de uma verdadeira mudança de vida!

Assim a esta altura da Quaresma, vejamos bem como estamos na nossa oração, na penitência, sobretudo dos alimentos, e na esmola. Vejamos como estamos no combate ao pecado que há em nós!

Irmãos queridos, não recebais a graça de Deus em vão!

Que nos ajude o nosso Jesus, Ele que na Sua misericórdia, hoje nos dirige tão séria advertência.

A Ele a glória para sempre. Amém.