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A Graça de Deus e a nossa Responsabilidade

Dom Henrique Soares da Costa
Reze o Salmo 119/118,33-40
Agora, leia com piedade e coração que escuta na fé Dt 3

1. Várias vezes aparece neste capítulo o Senhor Deus combatendo por Israel: é Ele mesmo Quem entrega Og nas mãos dos israelitas (cf. vv. 1-7). O Senhor é o Deus que combate pelos Seus: é Ele Quem entrega os inimigos, mesmo que as muralhas sejam altas e fortificadas, mesmo que os portões tenham ferrolhos fortes! Lembre o que foi dito sobre a guerra santa: ela é sempre imagem dos nossos combates, sobretudo dos combates espirituais… O Senhor combate ao nosso lado; na potência do Seu Espírito, Ele combate em nós; Ele nunca nos abandona; Ele é Fidelidade, Ele é Amor! Reze o Salmo 127/126.

Quanto ao tema da guerra santa, não esqueça: tudo deveria ser exterminado e consagrado ao Senhor. Na meditação passada, já expliquei o significado disto! Quanto a nós, temos uma guerra santa a travar, até que o inimigo seja exterminado: nossos vícios, nossos pecados… Combatamos, sem medo e sem frouxidão, o bom combate da fé. Leia Ef 6,10-20.

2. É o Senhor Quem dá e distribui a terra: tudo é graça, tudo é dom Dele e Ele é o Senhor de tudo! No entanto, a Terra dada, presente carinhoso do Senhor ao Seu povo, é sempre e continuamente, terra prometida: nunca será uma posse, será sempre um dom, sinal do amor e do compromisso do Doador para com o Seu povo amado! A graça nunca é posse; é sempre dom! Ninguém nunca poderá “tomar posse da graça de Deus”! Além do mais, a terra dada é, ao mesmo tempo, conquista que Israel deve fazer! Pense bem nisto, porque é assim também na nossa vida: tudo é graça de Deus e, ao mesmo tempo, tudo deve envolver nosso esforço e nosso empenho!

Reflita um pouco: o que você tem feito com os dons que o Senhor Deus lhe concede: tem feito com que eles frutifiquem? Você procura realmente levar a sério sua formação como pessoa e como cristão? Lembre da palavra do Senhor Jesus sobre isto (cf. Mt 25,14-30)!

Como a Terra Prometida era dom e conquista, a nossa existência, a sua construção, é a mesma coisa: dom de Deus e trabalho nosso, conquista nossa. Por isso mesmo, São Paulo exclamava:

“Pela graça de Deus, sou o que sou; e sua graça a mim dispensada não foi estéril” (1Cor 15,10)

Você pode dizer a mesma coisa? Pense nisto!

3. Nos vv. 12-17, Moisés recorda a divisão do território a leste do Rio Jordão: se desejar, olhe num mapa da Terra Santa: o Jordão corta a Terra Santa de norte a sul. Segundo a tradição bíblica, Israel entrou na Terra pelo leste, vindo de Moab. Primeiro tomou terras dos amorreus, antes de atravessar o Jordão. Essas terras foram dadas às tribos de Rúben, de Gad e parte da tribo de Manassés. Tudo segundo as disposições do Eterno, o verdadeiro Rei e Senhor de Israel.

Releia os vv. 18-22: Em Nome do Senhor, Moisés determina que os guerreiros dessas tribos já assentadas prossigam a viagem, atravessem o Jordão e ajudem aos irmãos das demais tribos no combate pela conquista da Terra Prometida, do lado oeste do rio! É todo o Povo de Deus que deve conquistar a terra, é todo o Israel que deve lutar unido como membros e um povo, o Povo santo de Deus!

Pense um pouco: O plano de Deus para a salvação da humanidade consiste numa Aliança de amor: no Antigo Testamento (a palavra “testamento” quer dizer “aliança”), essa Aliança é com Israel; no Novo Testamento, é com o Novo Israel, a Igreja. Assim, não existe uma aliança privada, exclusivamente pessoal, nossa com o Senhor: para ter uma relação viva com o Deus vivo, é necessário ser membro do Povo da Aliança: no Antigo Testamento, Israel segundo a carne; no Novo Testamento, a Igreja, o Israel segundo o Espírito de Cristo! Isto significa que é impossível viver um cristianismo de modo isolado, sem relação com os irmãos, como uma ilha. Leia e medite 1Pd 2,9-10. Nunca esqueça:

“Também sou Teu povo, Senhor, e estou nesta estrada!”

4. Nos vv. 18- 23 aparece de modo muito significativo o mistério da fidelidade de Deus. Acompanhe e medite:
(a) O Altíssimo dá (no presente) a terra ao povo como propriedade e dará, realmente , repouso ao Seu povo;
(b) Israel deve crer, pois já viu as obras do Senhor no passado: sabe que o Senhor cumpre o que promete e
(c) Ele fará (no futuro) quanto prometeu: Ele fez e fará, pois é fidelíssimo!

Ele é “o que era, o que é, o que vem!” (Ap 1,8):
era no passado, pois já O conhecemos, sabemos do Seu amor e da Sua fidelidade;
é no presente: tendo experimento Seu poder fiel no passado, podemos ter certeza de Sua presença e de Seu socorro no presente…

Mas, aqui, uma surpresa: o texto da Escritura não diz que Ele será, mas que vem! Por que isto? Se disse simplesmente que Deus é o que era, que é e que será, quase que diria que, do que era e do que é, se poderia deduzir o que Ele será, o que Ele fará! Ora, Deus, mesmo sendo fiel, é surpresa, é liberdade, é Aquele que vem sempre como novidade que subverte nossas expectativas! Não somos nós somente que vamos ao encontro Dele, Daquele que será; mas Ele mesmo, como surpresa e fidelidade, vem ao nosso encontro; Ele é o Vindouro, o “Venturo”! Por tudo isto, eu, você e todo aquele que crê, devemos sempre renovar nossa confiança no Eterno: “Não tenhais medo, pois Quem combate por vós é o Senhor vosso Deus!” (v. 22). Felizes os que sabem reconhecê-Lo e acolhê-Lo nas surpresas da vida:

“Quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18,8)

5. Um último aspecto deste capítulo, de dar pena e cortar coração, é a situação de Moisés (cf. vv. 23-29)! Os israelitas estão nas planícies de Moab, à entrada da Terra Prometida. Moisés, o fiel servo de Deus, pede-Lhe que o perdoe, que o deixe passar e entrar na terra:

“Deixa-me passar! Deixa-me ver a boa terra!” A resposta do Senhor é duríssima: “Basta! Não Me fales mais nada a este respeito!”

Ah, Irmão, os caminhos do Senhor! Veja como o pecado é grave, como tem consequências! Veja como Deus é Bom, mas está muito longe de ser bonzinho! Nossas escolhas, nossos atos, nosso modo de viver têm consequências diante do Senhor! Não existe um Deus bonzinho, não existe um Deus que faz de conta! “Não vais atravessar este Jordão!” – eis a sentença do Senhor Deus! Feliz, bendito, santo Moisés, que, humildemente, aceita a sentença do Altíssimo, que não se revolta nem maldiz o Senhor! Uma lição tremenda, forte, para tantos cristãos que querem dar um jeitinho no Evangelho, dobrando a verdade de Deus aos caprichos, manhas e infidelidades humanas! Mas, o Senhor nos julgará a todos!

6. Para rezar e pensar seriamente: Eclo 15,11-20/21