Skip to content Skip to footer

As Alegrias de Maria e Isabel. A Alegria do Espírito Santo

magnificat mosaico
Neste capítulo (cada capítulo do livro é uma meditação íntima), vamos transportar-nos de novo, com a imaginação, para a cena da Visitação de Maria a santa Isabel. Acabamos de considerar nas páginas anteriores a bela lição de caridade – «adivinhar» e «adiantar-se» -, que Nossa Senhora nos dá. Contemplaremos agora lições de «alegria» e de «humildade».

Lendo o relato da Visitação no Evangelho (Lc 1, 41-55), impressiona ver que a visita de Nossa Senhora a santa Isabel foi uma grande explosão de alegria. Vemos aí a alegria de Deus fundida com a alegria das duas futuras mães e com a alegria dos filhos que ambas trazem no seio: Jesus e João Batista. Todos ficam inundados de júbilo.

O Evangelho narra assim: Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, o menino [o futuro São João Batista] saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então Isabel olhou, encantada, para Maria e exclamou em voz alta:

Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E de onde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor? Pois logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio.

Isabel ficou cheia do Espírito Santo; o menino saltou de alegria no seu seio, acabamos de ler. Com essas palavras o texto sagrado mostra que a causa desse imenso júbilo foi a efusão do Espírito Santo, que procedia de Jesus, ainda no ventre da mãe, como de uma «fonte» (cf. Jo 7,37).

É maravilhoso ver que, movidos pela graça do Espírito Santo, Isabel e o seu filho estremecem de alegria. Essa cena feliz nos leva a perguntar-nos: por que aconteceu isso concretamente naquele momento?

A resposta é clara: porque ali estava Maria, e ela trazia Jesus consigo. Deus quis que Maria, desde que concebeu o filho, fosse medianeira da graça entre Cristo Salvador e os homens. Sim. Foi pela presença de Cristo, trazido por Maria, que o Espírito Santo desceu àquelas almas e derramou nelas a alegria de Deus.

É interessante lembrar que, quando São Paulo enumera, no capítulo quinto da Carta aos Gálatas, os frutos do Espírito Santo, depois de falar do primeiro deles, que é a caridade, menciona a seguir a alegria e a paz. Amor, alegria e paz: três sinais claros da graça de Deus.

O Cântico de Maria

Será que, nesta altura da nossa vida, ainda não descobrimos que as únicas alegrias autênticas são as que vêm de Deus? Que somente quem está com Deus, como Maria, é capaz de tê-las e de transmiti-las habitualmente. Aliás, o amor verdadeiro e a autêntica alegria sempre andam juntos. Por isso, Léon Bloy podia dizer – e poucos o entendem – que «a única tristeza que existe é a tristeza de não sermos santos».

A alegria de Isabel e do seu bebê foi radiante. Mas a maior alegria, a mais bela de todas, foi a de Maria Santíssima.

Também ela se sentiu inundada pelo gozo do Espírito Santo, e extravasou-o num cântico, o Magnificat (Lc 1, 40-55), que é uma das orações mais sublimes, um dos poemas mais belos que jamais se entoaram em louvor de Deus.

Começou dizendo, como você provavelmente recorda:

A minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para a pequenez da sua serva!

Já de início, falando da alegria, Maria diz uma palavra que brilha com um fulgor fascinante: a palavra «olhou». Maria proclama que está radiante de alegria, porque Deus «olhou» para ela. Meditemos um pouco sobre esse olhar.

Deus dá a Sua Graça aos Humildes

Em primeiro lugar, Maria ficou exultando de alegria porque se julgava tão pouca coisa, tão pequena serva, tão pura pequenez, que achou incrível Deus ter olhado para ela com predileção.

A Sagrada Escritura afirma uma e outra vez que Deus ama os corações humildes e, pelo contrário, afasta o seu olhar dos orgulhosos. Por três vezes, no texto sagrado, se repete que Deus resiste aos orgulhosos, e dá a sua graça aos humildes. Maria, que era tão plenamente humilde, estava cheia de graça. E, no cântico do Magnificat, inspirada pelo Espírito Santo, ela mesma dirá que Deus desconcertou os corações dos orgulhosos; derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.

É uma pena um coração orgulhoso. O orgulho é o pecado que mais desgosto causa a Deus, porque é o grande inimigo do amor. Sem humildade, não há amor. E, sem amor, não há alegria. Vejam se não é o orgulho (o amor-próprio ferido, o ressentimento, a teimosia de não dar o braço a torcer, a arrogância de não querer dar ou pedir perdão…) a causa da maior parte das brigas e divisões nas famílias. Essas divisões que doem tanto e que se sentem ainda mais no tempo de Natal!

Há um outro aspecto do olhar de Deus, de que o Magnificat também fala. Nesse cântico, Maria disse: Deus, meu Salvador, olhou para a pequenez da sua serva; e acrescentou:… realizou em mim maravilhas Aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Deus sempre faz coisas grandes com as pessoas que têm o coração humilde.

Realmente, na vida dos homens e mulheres humildes de coração, Deus faz muitas maravilhas, que os orgulhosos, sozinhos (porque se isolam de Deus), não conseguem jamais realizar. A pessoa humilde, por exemplo, recebe de Deus energias espirituais novas, que a tornam capaz de vencer dificuldades antes invencíveis; a pessoa humilde recebe a graça de ver com a luz da fé coisas que antes eram totalmente obscuras; a pessoa humilde torna-se capaz de ter uma paciência, uma mansidão e uma compreensão incríveis, que antes julgava impossíveis de alcançar; a pessoa humilde, com a graça de Deus, vence todos os obstáculos.

E, além disso, Deus escolhe os que são humildes como instrumentos para realizar coisas grandes em favor do próximo. Os melhores mestres – os que não só transmitem a ciência, mas formam homens e mulheres de verdade – são humildes; os bons pais – os que não só dão comida, saúde e estudo, mas ajudam os filhos a ser gente de valores e de virtudes – são pacientes e humildes; os bons colegas – os que caminham e avançam solidários com os seus amigos – são compreensivos e humildes; os bons voluntários, os autênticos servidores dos pobres, todos são humildes.

É claro que a humildade que estamos considerando não é a falsa humildade da pessoa encolhida e sem caráter, que se acanha porque se sente inferior, mas a humildade dos santos, a de Maria, que se vê a si mesma muito pequena aos olhos de Deus, mas está feliz porque Ele é seu Pai e ela sua filha, uma filha muito amada, que Ele contempla com infinita ternura.

Deus Pai cuida e nós

A ternura paternal de Deus faz-nos descobrir ainda um terceiro aspecto do olhar de Deus. É o seguinte: Deus, por assim dizer, além de olhar para nós, olha por nós, ou seja, Deus cuida de nós.

Uma das primeiras verdades que Cristo nos revelou foi esta: que Deus é um Pai que nos vê, que nos acompanha, que cuida de nós mais do que cuida das aves do céu e das flores do campo, mais do que a mãe cuida do filho. E que, muitas vezes, quando mais nos ama é justamente naqueles momentos em que pensamos que se esqueceu de nós. Os santos sabem disso.

É o que expressa belamente o Salmo 23 (22):

O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará. […] Ainda que atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo. […] A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias da minha vida.

Essa alegria de viver sob o olhar amoroso do Pai, que inundava a alma de Maria, também fazia São Paulo vibrar de júbilo. Ele tinha um otimismo que não era banal, mas era confiança profunda, consequência da fé:

Se Deus é por nós – dizia -, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?

Sem dúvida, ele falava de que Deus nos dará todas as coisas que trazem alegrias verdadeiras, alegrias eternas. Não só coisas boas que desejamos porque são agradáveis e favoráveis, mas também coisas dolorosas e adversas, que – por incrível que pareça – podem trazer-nos depois alegrias mais profundas e duradouras, se estivermos junto de Deus.

Os santos nos ensinam que podemos colher alegria tanto das flores como dos espinhos; isso depende do nosso amor a Deus e do nosso amor ao próximo.

São Paulo resumia essa visão otimista, tão própria dos filhos de Deus, com uma frase que deveríamos trazer gravada no coração: Nós sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus. Se conseguíssemos assimilar essa verdade, nada nos roubaria a paz.

Será que Deus pode olhar para nós como olhava para a Virgem Maria, como olha para seus santos? Peçamos a Maria, nossa Mãe, que nos ajude a ser dignos dessa graça, dignos de receber as coisas grandes que Deus preparou para nós, dignos de possuir a confiança feliz dos filhos que se sabem muito queridos e, por isso, têm a certeza de que o Pai está encaminhando tudo para o seu bem.

Voltar para o Índice do livro Contemplar o Natal