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XVIII. A Igreja Perseguida

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Costumamos chamar a Igreja de Cristo, a Igreja Católica, segundo a expressão de São Paulo, “o corpo místico de Cristo”, de Cristo que continua a viver, de maneira misteriosa, entre nós. Mas, se assim é, então não nos podemos admirar de que a história da Igreja seja a repetição, a edição aumentada da historia da vida terrena de Cristo, e de que a Igreja seja obrigada a suportar todos os sofrimentos que foram o destino de Cristo.

No curso dos séculos, só mudaram os nomes, os lugares e as datas, mas o fundo dos acontecimentos é o mesmo, Cristo foi perseguido por Herodes e Judas, Caifaz e Pilatos, pelos Fariseus e Escribas; a Igreja foi perseguida pelos imperadores romanos, pelos déspotas bizantinos, pelos príncipes grandes e pequenos; tem sido perseguida pelos maçons e pelos bolchevistas, – mas a perseguição é essencialmente a mesma, é sempre o mesmo grito: “Não queremos que Ele reine sobre nós” (Lc 19, 14), “crucifica-o” (Mc 15, 13).

A digna esposa de Cristo perseguido, verdadeiramente, só podia ser a Igreja perseguida.

A Igreja perseguida! Que dolorosas recordações, mas, ao mesmo tempo, estas simples palavras: a Igreja perseguida! Apenas Nosso Senhor deixara a terra, rebentava em Jerusalém a primeira perseguição contra os cristãos, e essa chama devastadora não devia mais extinguir-se, mas, ora aqui, ora ali, no mundo, continuará a erguer-se, enquanto a Igreja Católica subsistir na terra, enquanto houver um homem no mundo.

Será uma meditação sem dúvida bem dolorosa, mas também assaz instrutiva, confortadora e própria para fortalecer a nossa fé, se 1. Na primeira parte da nossa presente instrução passarmos rapidamente em revista as perseguições cruentas que a Igreja tem sofrido há dezenove séculos; e, em seguida, se 2. Nos esforçamos por enxergar o fim que a divina Providência quer atingir por essa provação. Nesta instrução vou falar da “Igreja perseguida”; na instrução seguinte tratarei da “Igreja invencível”, que é a grande lição proclamada pela Igreja com força indestrutível.

1. As Perseguições contra a Igreja

Martírio de Santo Estêvão, o primeiro cristão a morrer por causa da fé
Martírio de Santo Estêvão, o primeiro cristão a morrer por causa da fé

A) Os primeiros perseguidores da Igreja foram os Judeus.

Os apóstolos pregavam que Cristo era o Messias prometido; não um libertador político, como o esperavam os Judeus, mas o Salvador das almas. Isso não agradava aos Judeus, e por isto eles convocaram os apóstolos perante o Sinédrio para força-los ao silencio. Mas o doutor da lei, Gamaliel, dirigiu então aos membros do Sinédrio estas palavras memoráveis:

“Não vos ocupeis com essa gente, e deixai-a ir. Se essa ideia ou essa obra vem dos homens, cairá por si mesma; mas, se vem de Deus, não podereis destruí-la”. (At 5, 38-39).

Palavras magnificas; mas os Judeus não as escutaram, e a primeira perseguição continuou. O diácono Santo Estevão foi a primeira vitima: em seguida São Pedro foi lançado à prisão. Consoante Justino, os Judeus haviam encarregado emissários de seguirem passo a passo os apóstolos, e de procurarem enfraquecer a força da sua pregação, acusando-os de impiedade e de ateísmo. Mas tudo isso não pôde prejudicar a Igreja: a semente lançada pelos apóstolos cresceu a olhos vistos, e tornou-se mais forte de dia para dia.

B) A perseguição judaica foi seguida duma perseguição muito mais perigosa: a intervenção do poder romano contra o cristianismo.

a) A perseguição romana contra os cristãos foi duma crueldade sem exemplo e particularmente sangrenta. É um enigma, humanamente inexplicável, na Historia do mundo, que o cristianismo tenha podido fazer frente às violências do poder romano, à defesa desesperada da gigantesca civilização pagã, às calúnias, às injurias, aos sarcasmos e à luta aberta.

Que calunias inauditas foram lançadas contra os cristãos! O culto espiritual de um deus espiritual foi tratado de ateísmo; o banquete eucarístico foi tratado de banquete de Tieste; as reuniões dos cristãos nas catacumbas foram tratadas de conspirações; o amor do próximo foi considerado depravação… e tudo isso não pôde aniquilar o cristianismo. Centenas de milhares de pessoas deram a vida pela fé cristã.

E de que meios inauditos lançaram mão contra eles! O imperador Adriano mandou elevar uma estátua de Venus no Calvário e uma de Júpiter no tumulo do Redentor, – mas em vão. Severo proibiu que alguém se fizesse cristão (“Judaeos fieri vetuit, idem etiam de christianis sanxit”) – mas em vão. Diocleciano, após cruel perseguição, fez elevar um monumento comemorativo com esta orgulhosa inscrição: “Nomine christianorum deleto” – “Em lembrança da destruição do nome cristão”, – mas debalde.

b) A perseguição a mais cruenta foi inútil: a jovem esposa de Cristo, a Igreja, enxugou o rosto banhado em sangue, e retomou sua marcha, mais forte do que antes. Certamente Maximiliano jamais teria pensado que, no lugar onde se elevara o seu palácio e onde fora preparada a mais sangrenta perseguição, se ergueria um dia a Basílica de Latrão com esta inscrição: “Mãe e senhora de todas as igrejas”, e que no local onde se achava seu trono se elevaria o trono duma dinastia imorredoura: o trono do papa.

SACROS[ancta] LATERAN[ensis] ECCLES[ia] OMNIUM URBIS ET ORBIS ECCLESIARUM MATER ET CAPUT" - "Santíssima Igreja de Latrão, de todas as igrejas da cidade e do mundo, mãe e cabeça"
SACROS[ancta] LATERAN[ensis] ECCLES[ia] OMNIUM URBIS ET ORBIS ECCLESIARUM MATER ET CAPUT” – “Santíssima Igreja de Latrão, de todas as igrejas da cidade e do mundo, mãe e cabeça”
Certamente Inês, a jovem mártir de 14 anos, quando a arrastaram violentamente para o antro do vício, não teria pensado no que viria a ser um dia aquele lugar de pecado. Efetivamente, é ali que se ergue agora a Igreja de Santa Inês, um das mais belas igrejas de Roma, na Piazza Navona.

Falar-vos-ei do jovem mártir São Pancrácio? Sua mãe, Lucina, reza por ele com angustia: será seu filho um confessor da fé tão intrépido, quanto o foi seu esposo, que deu a vida por Cristo? O filho – de alma ardente – está sentado nos joelhos da mãe. Em que pensa ele? Não na magnifica basílica que, mil e seiscentos anos mais tarde, a multidão dos peregrinos virá visitar em Roma, e que terá o seu nome. Não vê o relicário de prata no qual o papa Honório I depositará os seus restos mortais. Não pensa em que milhões de pessoas lerão um dia seu nome no martirológio, e em que, num altar, sua imagem, aureolada de glória, brilhará como a do menino mártir do cristianismo primitivo. Ignora tudo isso esse menino. Só o previu Cristo, o seu Redentor, que deu a vida por ele, e por Quem ele também dará a sua jovem existência.

c) O poder romano não pôde triunfar desse espírito. Quando Diocleciano desceu do seu trono de púrpura e terminou seus dias como velho rabugento; quando Galério morreu devorado pelos vermes, e reconheceu a injustiça do seu edito de perseguição; quando Maximiliano Hércules se suicidou; quando Maxêncio se afogou no Tibre; quando Maxímio expirou em sofrimentos tão atrozes quanto os que preparara aos cristãos; quando Licínio sucumbiu sob a espada de Constantino, – a esposa de Cristo lá se mantinha sempre: coberta de sangue, mas cheia de força e de ardor no combate.

No fim desses trezentos anos de perseguições, a jovem Igreja enxugou o semblante ensanguentado, e, mais bela e mais jovem, continuou sua obra: as portas do inferno tinham-lhe oferecido lutas cruéis, mas as portas do inferno não tinham podido prevalecer contra ela.

C) Depois das perseguições abertas, dos Romanos, um assalto mais perigoso foi lançado contra a Igreja: os ataques espirituais. Lúcifer mudava de tática. Já não ataca abertamente, mas age como um adversário fraquíssimo: envenena as fontes do inimigo.

a) Os cismas surgem dentro da Igreja, e o perigo das invasões bárbaras fora Igreja. A cada século, os hereges atacam a Igreja por todos os lados. Às vezes, em consequência, quebra-se apenas um pequeno ramo, outras vezes é um grosso galho, e houve mesmo um tempo em que, por assim dizer, “o mundo inteiro” se achou na heresia. E, no entanto, a Igreja chorou, sem dúvida, seus filhos separados, os frutos corrompidos, caídos dos seus ramos, mas em seguida, com força nova, prosseguiu sem desfalecimento seu caminho no campo da história.Vêm as invasões bárbaras. Forças brutais assaltam a Europa. E, no centro desse grande movimento, mantém-se de pé o rochedo contra o qual as portas do inferno não prevalecem. Vejamos o que resultou daí. Que foi que aconteceu? A Igreja não aceitou o espírito selvagem, mas foram os povos bárbaros que se submeteram ao jugo suave de Cristo.

b) O assalto veio de outro lado: o ideal do mundo pagão voltou à tona com a Renascença. A Renascença contamina a vida e os costumes cristãos até nos seus chefes, até nas mais altas autoridades. Nessa época, fontes de perdição insinuaram-se na vida da Igreja. Em verdade ela deveria então ter perecido, se fosse obra humana.

E qual foi o resultado? O poder de vida da Igreja lançou para longe dela a infecção e triunfou dos assaltos desesperados do ideal pagão.

Depois vieram os arautos do “filosofismo”, depois, a revolução francesa. “Estou cansado de ouvir dizer” – declarava Voltaire –que bastaram doze homens para fundar o cristianismo. Apraz-me demonstrar-vos de que bastará um só, para destruí-lo”. E lançou esta ordem: “Esmagai a infame”. Mas a Igreja Católica aí está, sempre.

c) Depois de tudo isso vieram as perseguições atuais. O ateísmo declarado dos Sovietes russos, que querem pelo terror, pelo sangue, pelo fogo, pelo ferro, pela zombaria, pela dinamite, pelo exílio, arrancar da alma humana a fé em Deus. Depois sobreveio outro assalto não menos perigoso, que não combate contra Deus abertamente como os Sovietes, mas quer criar, com as lendas fantásticas das religiões pagãs primitivas, uma nova religião, e assim conduzir o homem à irreligião total.

Saiba mais: Assista ao vídeo do Pe. Exorcista Duarte Sousa Lara sobre os 7 Erros da Nova Era

Essas lutas ainda duram, a perseguição não cessa, mas quem será vencedor? Deus ou o ateísmo? Jesus Cristo ou Satanás? O testemunho da História, até aqui, não permite duvidar um só instante do resultado.

Com efeito, não há um só terreno da civilização humana ao qual não se tenha até aqui ido buscar argumentos contra a Igreja – e nenhum deu resultado. Ora é a astronomia que se opõe aos dogmas, ora é a biologia. Ora parte-se em guerra contra ela em nome da geologia, ora em nome da filosofia. Recorre-se às inscrições dos tempos pré-históricos, aos costumes dos povos primitivos… E, ao cabo de todos esses esforços, verifica-se que não há uma só verdade científica certa, que esteja em contradição com os nossos dogmas; e após perseguições sem trégua, a Igreja Católica nunca teve tantos fiéis como atualmente, nunca teve tantas igrejas como hoje. Quando começam a persegui-la num país, ela desabrocha, mais viva, noutra parte do mundo, e vemos realizar-se de maneira tangível e visível as palavras que o Salvador dirigiu a São Pedro, quando a fundou: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

2. A Divina Providência e as Perseguições

Início da perseguição contra os cristãos por Nero

Mas, irmãos, não nos contentamos em consignar simplesmente os fatos. Cremos que nem um só dos nossos cabelos cai, sem que o saiba nosso Pai do céu. Deus tem, portanto, grandes desígnios quando permite que sua Igreja seja perseguida.

Quando o fogo do sofrimento queimava os fiéis de Cristo, eles certamente não sabiam o que queria com isso a Providência. Os que viviam na tempestade das perseguições não percebiam quais eram os desígnios de Deus.

Mas, hoje, vemos tudo sob outra claridade. Tudo corresponde a um plano Divino, seja o que for que aconteça a uma nação, ou à sua própria Igreja.

Hoje, já vemos claramente que a perseguição realizou um duplo fim nas mãos da Providência.

A) As perseguições contribuem para o revigoramento e para a dilatação da Igreja. Assim como um vento sacode em todos os sentidos os galhos da árvore e, despegando os frutos, leva a longa distância a semente de novas árvores, assim também as perseguições têm propagado a Igreja de Cristo.

Apenas Nosso Senhor deixara a terra, estalava em Jerusalém a primeira perseguição, e os apóstolos eram obrigados a abandonar a capital judaica. É certo que isso lhes foi penoso e que eles sofreram com isso. Mas vemos agora o quanto isso serviu aos desígnios da divina Providência. De fato, essa perseguição contribuiu para o cumprimento do mandamento divino: “Sereis minhas testemunhas… até os confins da terra” (At 1, 8).

O cristianismo toma pé em Roma. Acendem-se ali a perseguição de Nero e em seguida as perseguições mais sangrentas, durante três séculos; – quanto mais sangue cristão corre, porém, tanto mais vitoriosamente se ergue a cruz de Cristo. “Sanguis martyrum semen christianorum” – “do sangue dos mártires nasce uma nova vida cristã”, como após uma chuva de maio principia a nascer a messe, e, como do grão de areia que tortura a concha, nasce a pérola preciosa.O caminho da Igreja de Cristo tem sido, ao longo de toda a História, uma via sacra contínua. E, coisa notável, as páginas mais esplendentes da sua história não foram escritas nas épocas em que a humanidade se inclinava ante a grandeza da Igreja, mas sim, quando a Igreja mais sofreu, – pois o sinal caro à Igreja é a cruz. Ninguém apreende tão profundamente o sentido e a utilidade do sofrimento, quanto a Igreja de Cristo, que sabe que sob as marteladas do sofrimento se abrem na alma humana profundezas insuspeitas, e que nossos olhos enxergam então melhor a verdadeira significação das coisas. Os tempos de perseguições sempre foram as épocas mais gloriosas da Igreja, pois quem avança no caminho da cruz deve inevitavelmente encontrar-se com Cristo, que carrega sua cruz.

Tirai as perseguições, e as pérolas da Igreja desaparecerão” – dizia Santo Ambrósio, designando o martírio sob o nome de pérola. “Se não tivesse havido hereges, diz Santo Tomás, a ciência dos santos não teria florescido”. Assim, as heresias e as perseguições, as forças exteriores e as resistências intelectuais prepararam o triunfo da Igreja. São bem verdadeiras estas palavras de Santo Hilário:

“A Igreja floresce quando é perseguida; triunfa quando é oprimida; progride quando é desprezada; fica de pé quando parece vencida” – “Ecclesia, dum persecutionem patitur, floret; dum opprimitur, vincit; dum contemnitur, proficit; stat, cum superari videtur”.

B) Mas a divina Providência tem ainda outro intuito quando permite as perseguições da sua Igreja. Não somente quer fortifica-la no meio das tempestades e perseguições, mas quer também consolá-la e animá-la. O fato de, incessantemente, na luta, a Igreja haver sempre triunfado, é para nós um grande consolo e um conforto, ao mesmo tempo que uma certeza da verdade da promessa de Cristo, segundo a qual as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja.

a) O capítulo 14 do Evangelho de São Mateus mostra-nos Nosso Senhor andando sobre as águas. Eram três horas da madrugada. A barca dos apóstolos era jogada de um lado e doutro pelas vagas… de repente o Salvador aparece andando sobre as águas e chamando a Si Pedro. Quando Pedro, de alma ardente, se ouve chamar pelo divino Mestre, não tem um instante de hesitação: salta na água e adianta-se para Nosso Senhor.Mas a água estava agitada. As vagas erguiam-se bem alto, e Pedro teve medo. E, à medida que sua fé e sua confiança diminuam, ele começou a afundar-se nas ondas. “Senhor, salvai-me”, exclamou ele com desespero. E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e lhe disse: “Homem de pouca fé, por que duvidaste? E quando subiram à barca, o vento aplacou-se” (Mt 14, 31-32).

Imagem frisante da Igreja de Cristo! O Senhor não lhe poupou no passado, e não lhe poupará no futuro as tormentas da perseguição, mas não temos o direito de faltar à fé nem de desesperar, porque o Senhor não deixará soçobrar a barca de Pedro.

Martírio dos Cristãos

b) Quantas vezes, tempestades irresistíveis, em aparência, têm se erguido em torno da barca da Igreja, nas lutas interiores que esta tem tido que sustentar no momento das heresias: arianismo, nestorianismo, monofisismo, pelagianismo… Que perigo significou para a Igreja o bizantinismo, que procurava reduzi-la à escravidão. Depois, o cisma da Igreja do Oriente! Depois, qual novo espectro devastador, o maometismo lança-se sobre a Europa. Depois vem o doloroso cisma do Ocidente… E hoje? Um perigo mais terrível do que todas as heresias e todos os cismas: o ateísmo organizado, cientifico, munido de meios poderosos… E, mau grado tantas perseguições cruentas, como que por milagre perpétuo, a Igreja Católica persiste de pé, com uma força que não fraqueja, há dezenove séculos.As portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Ela tem visto ligarem-se contra ela os indivíduos, as instituições, os soberanos, as correntes de ideias, a ciência, a filosofia, as forças dos Estados… Há séculos, demagogos e revolucionários gritam constantemente: “Abaixo a Igreja!”. E nada têm conseguido. Acaso uma catedral milenária sofre, quando um garoto mal educado lhe esgravata as paredes com uma faca? Porventura a Igreja Católica, de dezenove séculos de idade, sofre quando uns revoltados batem, raivosos, a cabeça contra o rochedo da sua base?

Em cada meio-século, surge aqui ou acolá, na terra, um personagem em moda, que pronuncia a oração fúnebre da Igreja, – e entretanto é a Igreja que tem enterrado todos aqueles que a tratavam com tanta superioridade.

Quantas acusações se têm levantado contra ela em nome da filosofia moderna e da ciência, que dizem incompatíveis com os dogmas da Igreja! E a Igreja nunca teve medo das zombarias, nem nunca retirou coisa alguma dos seus ensinamentos, pois tinha tempo de esperar que os resultados certos dos investigadores sérios, desmentissem as acusações frívolas dos incrédulos.

A Igreja está de pé. Ao lado dela ruíram imensos impérios que dispunham de poderosos meios para sua defesa. E a Igreja está de pé sem canhões, sem baionetas, sem fortalezas, sem aviões, sem tanques, apoiando-se simplesmente em duas frases, duas pequenas frases, mas que são mais fortes do que todos os exércitos, do que a maçonaria e as ligas dos “sem-Deus”, porque foi o Filho de Deus quem as pronunciou: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18); e: “Eis que estou convosco até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

***

Meus irmãos, a Igreja é Cristo que continua a viver entre nós; na sua história renova-se, pois, a história terrena de Nosso Senhor Jesus Cristo: seus padecimentos – mas também seu triunfo.

Desde que a Igreja existe, está incessantemente em luta; mas o testemunho de dezenove séculos clama a todos os ouvidos: assim como Cristo só em aparência foi vencido por seus inimigos, assim como a sexta-feira da Paixão cede o lugar à glória do dia de Páscoa, assim também os ferimentos infligidos à Igreja por seus inimigos têm-se tornado as marcas do seu triunfo. Cada derrota que ela tem sofrido tem-se-lhe tornado fonte de novo incremento, e no seu estandarte vitorioso brilha continuamente a realização da promessa de Cristo: “Eu vivo e vós vivereis” (Jo 14, 19). É a única barca da qual temos o direito de dizer: “Fluctuat nec mergitur” – “flutua e não afunda”; é um rochedo contra o qual investem os assaltos das vagas, mas ele próprio não vacila.

Creio na Igreja Católica! Era o grito de fé dos primeiros cristãos há dezenove séculos, e será a crença dos homens remidos, enquanto viver um homem na terra, até que Cristo volte para julgar os vivos e os mortos.

E ficarei, com todo o meu amor, até o derradeiro suspiro, ao lado da Igreja cristã perseguida. E se, entre nós, homens de inteligência duvidosa se apresentassem para querer fazer propaganda em favor de alguma religião pagã – como se o nosso povo não tivesse outra preocupação – , se tais ataques insensatos se lançassem contra a velha fé cristã, então eu me conservaria com amor ainda mais forte, ao lado da minha santa religião católica.

Oh! Sim, arde também em mim a flama do patriotismo – mas, sei que ela não pode substituir o fogo sagrado dos nossos altares.

Sei que não trabalho só para a salvação da minha alma, mas que sirvo também do melhor modo os interesses de minha pátria, quando me esforço para ser um filho obediente, dedicado e fiel da Igreja Católica, incessantemente perseguida, mas incessantemente vitoriosa. Amém.

(Toth, Mons. Tihamer. A Igreja Católica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1942, p. 227-238)